Colher Conteúdo Único: Como se Faz o Descortiçamento

A cortiça

Cortiça é o nome atribuído à casca do sobreiro. O sobreiro, por sua vez, é a única espécie vegetal capaz de produzir cortiça com a máxima qualidade, tornando-se assim a origem de uma indústria única no mundo que é vital para a manutenção do Montado e para a economia portuguesa, representando a cortiça 2% das exportações de bens nacionais.

A cortiça é um dos materiais naturais mais versáteis e fascinante. É um tecido completamente natural, 100% reutilizável e reciclável, constituído por uma colmeia de células que contêm um gás idêntico a ar.

É esta composição que garante à cortiça a sua leveza e elasticidade: a cortiça pode ser comprimida até metade da sua largura sem perder flexibilidade e é capaz de voltar à forma original imediatamente - isto permite-lhe adaptar-se às variações de temperatura e pressão sem sofrer quaisquer alterações.

Além de isto tornar a cortiça um ótimo isolante térmico, a sua colmeia celular permite-lhe também funcionar como um isolante acústico, devido à absorção de ondas sonoras.

Como se não bastasse, a cortiça é ainda um retardador natural de fogo devido à sua combustão lenta e ao facto de não criar chama. E não é só o fogo que não lhe faz frente, a água também não: a cortiça é totalmente impermeável a líquidos graças à suberina e carina presentes nas células. É ainda naturalmente hipoalergénica, não absorvendo pó e evitando o aparecimento de ácaros.

A junção destas propriedades oferecidas pela natureza de forma tão graciosa torna-se especialmente admirável quando se considera que nenhum material criado pelo Homem conseguiu reunir todas estas características. Natural e inigualável, a cortiça é o melhor dos dois mundos - mas como é que chega até nós? Nós fomos descobrir e aproveitamos para captar algumas imagens.

 

O descortiçamento

O descortiçamento é feito no Montado, no Alentejo. O Montado, uma floresta de Sobreiros, compõe 23% da área florestal portuguesa.

O Montado é também um dos 35 santuários mundiais de biodiversidade, albergando mais de 160 espécies de aves, 24 espécies de répteis e anfíbios, 37 espécies de mamíferos - entre elas o lince ibérico.

A magia do Montado poderia acabar aí (e seria suficiente), mas insiste em prolongar-se. Todos os anos, o Montado fixa 14 milhões de toneladas de CO2, evitando que este seja libertado para a atmosfera.

Os sobreiros vivem, em média, 200 anos. É após os primeiros 25 anos desta longa e frutífera vida que o tronco do sobreiro começa a produzir cortiça. No primeiro descortiçamento, apelidado de “desbóia”, a cortiça apresenta uma estrutura irregular e é extremamente dura, tornando-se difícil de manobrar - nem a natureza consegue acertar sempre à primeira. Esta “cortiça virgem” é normalmente utilizada para pavimentos e isolamentos, já que não é flexível suficiente para se transformar em rolhas.

É apenas a partir do terceiro descortiçamento que se obtém cortiça com as características indicadas para o fabrico de rolhas. Após cada descortiçamento, o sobreiro leva nove longos anos a regenerar-se para poder oferecer a sua cortiça de novo, conseguindo, em média, assistir a 15 descortiçamentos ao longo da sua vida.

Ao longo do processo, é absolutamente crucial adotar todos os cuidados necessários para não danificar as árvores. Se o sobreiro for danificado, não poderá regenerar-se e produzir mais cortiça. Por esse motivo, o descortiçamento é realizado apenas por profissionais altamente qualificados. O descortiçamento é executado em seis etapas:

  1. A abertura: a cortiça é golpeada na vertical, escolhendo a fenda mais profunda da casaca. Ao mesmo tempo, o gume do machado é torcido para separar a prancha do entrecasco;

  2. A separação: o gume do machado é introduzido entre a barriga da prancha e o entrecasco, seguida de uma torção do machado para realizar a separação;

  3. A traçagem: com um corte horizontal, delimita-se o tamanho da prancha a retirar;

  4. A extração: a prancha é retirada com o maior dos cuidados para que não se parta. Quanto maiores as pranchas, maior o seu valor comercial. Após a extração da primeira prancha, é repetido o processo até retirar toda a cortiça do tronco;

  5. O descalçar: após a extração das pranchas, mantêm-se alguns fragmentos de cortiça junto à base do tronco. Para retirar eventuais parasitas que existam nos calços do sobreiro, o descortiçador dá algumas pancadas com o olho do machado;

  6. A marcação: no final do processo, marca-se cada árvore com o último algarismo do ano em que foi realizado o descortiçamento, para ser possível saber quando o processo se irá repetir.

Toda a cortiça extraída é inteiramente aproveitada, seja através da utilização de restos para produtos secundários ou através da trituração de produtos de cortiça já utilizados para a criação de novos produtos.

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