Making of: Editorial Twintex 2022
Moodboard por Melanie Smith
A Inspiração
Quando a Twintex nos propôs este projeto, comunicou, antes de mais, que a ideia era fazer algo diferente. Conhecida pelos acabamentos impecáveis, tecidos requintados e atitude composta, a Twintex quis mostrar que a sofisticação não é imperativamente sinónimo de formalidade. Pode ser abstrata, natural, etérea. Assim surgiu o rascunho mais primitivo deste projeto: demonstrar o contraste (que é, simultaneamente, uma simbiose) entre a aspereza e imprevisibilidade da natureza e a delicadeza e precisão das peças criadas pela Twintex.
Pela sua irreverência orgânica e estilo inimitável, pensamos que Melanie Smith (@truth_comes_first_by_melanie) seria a stylist ideal para o projeto. Afirmando-se ser “Emoção. Sustentabilidade. Arte. Estilo e verdade”, Melanie concordou e abraçou o projeto. A primeira inspiração que partilhou connosco - quase como se de um moodboard imersivo se tratasse - foi o videoclipe de “Cranes in the Sky” de Solange. O vídeo sobrepõe peças haute couture com paisagens al naturel, criando a fusão perfeita de elegância e robustez.
“I remember looking up and seeing all of these cranes in the sky. They were so heavy and such an eyesore, and not what I identified with peace and refuge. I remember thinking of it as an analogy for my transition—this idea of building up, up, up that was going on in our country at the time, all of this excessive building, and not really dealing with what was in front of us.”
O tema em si faz referência a gruas. No entanto, curiosamente, “Cranes” é também a palavra inglesa para “Grous” - aves de grande porte com longas pernas e pescoços que, por acaso ou pura sorte, estão carregadas de simbolismo e características únicas que serviram como tinta para o projeto que pintamos.
Conhecidos pela fluidez e graciosidade dos seus movimentos, na Ásia, os Grous são um símbolo de felicidade e juventude, tendo servido de inspiração não só para histórias mitológicas, como também para danças e até movimentos de Kung Fu. No Japão, em particular, o Grou é um dos animais sagrados, e simboliza bom fado e longevidade. Já na Antiga Grécia, a dança dos Grous era considerada uma celebração de alegria e vida.
Esta simbologia revelou-se o complemento perfeito para o conceito estético desenvolvido para o projeto. A natureza, a roupa e a modelo - que passou a encarnar um ser gracioso, elegante e com fluidez incomparável, tal como o Grou - tornaram-se as personagens principais de um épico escrito através de uma lente.
Como enaltecedor do ambiente flórido em construção, juntam-se à cena maquilhagem suave, radiante e abstrata, e cabelo envolto em ondas, ouro e meticulosa despreocupação - ambos criados pelas mãos de Catarina Esteves (@ce.consciencia.imagem).
O Resultado
O Grou metafórico foi incorporado por Diana Godinho, agenciada pela NXT Management. As feições simultaneamente afiadas e suaves, as sardas beijadas pelo Sol e o cabelo dourado rapidamente a evidenciaram como a escolha perfeita para o projeto.
A primeira localização escolhida foi nada mais, nada menos que o ponto mais alto de Portugal Continental: a Torre da Serra da Estrela. Com uma cascata de ouro que se funde numa de caracóis e maquilagem minimalista, a Diana sobrepôs-se a uma paisagem de rochas de um verde desbotado, relva dourada e um céu magnificamente azul. Aqui, fez brilhar cinco dos conjuntos preparados, todos em tons neutros.
Com uma rápida pesquisa no Google pode confirmar que a segunda localização, o Covão da Ametade, parece saída diretamente de um conto de fadas. Foi aqui que fotografamos as peças mais vibrantes, cuja cor trazia ainda mais vida ao bosque. Aqui, a maquilhagem criada evocava as cores intensas que tipicamente adornam a cabeça dos Grous, reforçando a metáfora de um pássaro a voar entre as árvores - um pássaro muito bem vestido, diga-se de passagem.
A última localização - a Barragem da Lagoa Comprida - foi agraciada com aqueles que podem ser considerados os looks mais clássicos, mas o batom marcante, o movimento da água e as rochas banhadas pela luz de fim da tarde fizeram com que as peças assumissem uma contemporaneidade irreverente e relaxada.
Na barragem, o contraste flora/formalidade atingiu o seu epítome. A irregularidade das rochas contradizia o corte irrepreensível dos conjuntos, e a ondulação da água que é percorrida contrariava as linhas retas da indumentária solene. A sessão começou assim que o Sol nasceu e terminou no momento em que se pôs, mas quem corre por gosto não cansa - principalmente com paisagens destas.